Interessante questionamento surgido em dois eventos que participei esta semana sobre mediação, um no Brasil e outro nos EUA, e cujas respostas bem demonstram o estado daquele mecanismo nos diferentes países.
– O mediador deve ter uma atuação mais generalista ou se é mais recomendável que se torne especialista em alguma área do conhecimento ou de atuação profissional?
Como nos EUA o mercado de ADR já consagrou a mediação há algumas décadas, segundo os painelistas do evento norte-americano, é natural e até recomendável que os mediadores busquem uma especialização como um diferencial competitivo e, quando necessário, recomendem colegas em áreas em que não atuam com tanta destreza ou não detenham a expertise necessária. Ou seja, trata-se de um mercado consolidado onde a especificidade é um caminho natural como acontece em qualquer profissão.
Já no Brasil estamos no início desta caminhada e ainda são poucos os que podem se dar ao luxo de se autoproclamarem especialistas em resolver disputas em um determinado campo do direito ou indústria. De mais a mais, figurativamente falando, a “argila” do mediador é a mesma tanto para moldar acordos na área de tecnologia, por exemplo, quanto em uma briga entre vizinhos por uma cerca fora do lugar. As ferramentas para esculpir uma composição – escuta ativa, empatia, perguntas abertas, distinção entre posição e interesses etc., são, a rigor, praticamente as mesmas para solucionar quase todos os tipos de casos. No evento que assisti nos EUA, a painelista (renomada mediadora na área de família) fez referência a duas profissionais com alto grau de especialização – uma que além de mediadora era criadora de cachorros e se especializou em conflitos envolvendo pets como objeto (e não entre eles) e outra que por ser pilota de avião ganhou notoriedade em solucionar conflitos na área aeronáutica.
Com certeza a segmentação da mediação no Brasil virá com o tempo assim como ocorreu, de certa forma, com a advocacia se comparada à prática há 30 anos atrás com a sofisticação da atuação dos advogados atuais com alto grau de especificidade. Até lá, o investimento nas habilidades intrínsecas e genéricas para forjar um bom mediador já é mais do que suficiente para a consolidação e o sucesso da prática.