O litígio deve ser evitado a qualquer custo. O que aprendi em quase 40 anos como advogado-negociador.

O transcurso de 40 anos atuando no meio jurídico, sobretudo na área de resolução de conflitos em grandes escritórios de advocacia, me permite compartilhar alguns aprendizados que, espero, possam agregar valor àqueles que são mais novos na profissão.

O advogado recém-formado é, por força da natureza do curso de direito, um generalista que vai se lapidando ao longo de 5 a 10 anos de carreira para, enfim, se tornar um especialista.

Diferentemente de décadas passadas, hoje, com a sofisticação dos negócios, a globalização da economia, o avanço avassalador da tecnologia e a complexidade dos temas legais mais pujantes, temos que a generalização é insustentável e o foco em alguma área específica do direito se faz mais e mais indispensável.

Atualmente, os jovens advogados não mais disputam espaço “apenas” entre si, mas também entre os robôs e os desafios da inteligência artificial que vieram, na realidade, para somar e não tomar seus lugares. De toda a sorte, o viés do hiperfoco é uma tendência forte, o que, por outro lado, impede a visão mais holística da profissão ou da verdadeira missão do advogado.

A chamada área de resolução de disputas ou simplesmente “contenciosa”, ainda que também surfe essa onda da especialização (no caso, em tipos de conflitos ou matérias), é um tanto mais generalista, pois o litigator deve conhecer as regras que comandam o processo, sem descuidar do obrigatório conhecimento do direito material em seus diferentes matizes.

O que tanto o advogado do passado, quanto o do presente parecem ter desaprendido, é que a nossa missão é pacificadora ou, para não parecer piegas, resolvedora de conflitos.

Os clientes não vivem de litígios ou teses jurídicas, apenas nós é que buscamos nesse ambiente a melhor forma de exercer a profissão escolhida. Ao contrário, as pessoas e as empresas têm aversão ou, no mínimo, se sentem muito desconfortáveis em frente de um juiz ou de um painel arbitral.

Para as partes é sempre perda de tempo e dinheiro litigar. De mais a mais, a maioria dos litigantes, provam as pesquisas a respeito, saem ao final dos processos insatisfeitos com o resultado alcançado, mesmo quando vencem a causa.

Portanto, o litígio deve ser evitado a qualquer custo.  A meu juízo, o advogado deve buscar a priori esse objetivo que vem ao encontro do desejo principal ou único do cliente, consciente ou inconsciente, qual seja, de alcançar uma solução menos dolorosa e, por vezes, mais eficiente do ponto de vista financeiro. Aí entram as habilidades do advogado como mediador de conflitos ou negociador de um resultado possível para colocar fim à disputa através de um acordo, fora de um processo judicial ou de uma arbitragem.

Infelizmente, desde sempre, as faculdades instrumentalizam os advogados para que se tornem excelentes guerreiros e não ótimos pacificadores ou negociadores.

A arte da negociação, assim como a arte da guerra, demanda o domínio de técnicas e o rigoroso treinamento para que os seus resultados (as “vitórias”) aconteçam. Para tanto, os cursos de direito poderiam mesclar as disciplinas regulares com aquelas que transitam pela avaliação de risco, comunicação, economia comportamental e outros tantos temas do espectro da negociação.

Negociar um acordo e rapidamente solucionar o conflito é tão importante quanto obter uma liminar. Logo, não há motivo para que tais conhecimentos fora do direito não convirjam e se aliem, dentre e fora da academia. A mesma conclusão é válida para os escritórios de advocacia que podem e, a meu juízo, devem oferecer à sua clientela outros mecanismos (consensuais) de solução de conflitos que passam ao largo do contencioso tradicional.

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