Repensar para chegar a melhores resultados

Vivemos cada dia mais a era dos antagonismos. Ou seja, como agora a maioria das pessoas tem acesso ilimitado aos mais variados dados sobre absolutamente qualquer assunto, todos nós, em menor ou maior amplitude, nos tornamos especialistas nas nossas próprias convicções. As redes sociais potencializaram exponencialmente essa exposição das nossas “teses”, sempre bem calçadas, que, ato contínuo, ganham seguidores, apoiadores com vários likes, ou detratores, ou mesmo inimigos mortais.

Essa polarização, ao que me parece, ganhou uma dimensão abissal atualmente diante da rapidez da circulação dessas manifestações em forma de posts sobretudo quando tratam de temas polêmicos que podem perpassar por questões prosaicas ou temas mais densos numa sociedade cada vez mais disruptiva. Quando essa faísca ganha força, o fogo do debate é capaz de reforçar vínculos de amizades ou profissionais, ou criar profundas inimizades.

A realidade é que existem questões que hoje são debatidas de forma por vezes irracional como, por exemplo, o enfrentamento da pandemia, ou o controle de venda de armas de fogo, ou o desmatamento na Amazônia, e que realçam duas características muito comuns nos seres humanos; primeira, de se apegarem visceralmente as suas próprias convicções pelo receio de estarem eventualmente errados e, segunda, de se juntarem aos grupos ou manadas que defendem as mesmas ideias.

Tenho convicção que as pessoas honestas e de bom senso são contrárias a proliferação da COVID, avessas à violência e ao fim das nossas florestas. No entanto os debates a respeito dessas pautas são por vezes radicais ou mesmo moralmente ofensivos.

No seu recente livro, Think Again, Adam Grant convoca seus leitores a “repensar” suas crenças como uma forma de abrir novos portais de conhecimento. Se concedemos ao menos o benefício da dúvida quanto ao que o “outro” defende, é possível que passemos a enxergar novas alternativas, a partir da perspectiva alheia, que podem ser por nós exploradas e eventualmente acatadas e ampliadas. Se permanecemos fechados, como pregadores da nossa própria e absoluta verdade, essa possibilidade exploratória dificilmente aparecerá. Isto não significa que devemos criar uma unanimidade até porque ela é, e será sempre, “burra” ou arbitrária. Grant refere também que os grupos que pensam igual, acabam radicalizando suas opiniões e criando muralhas a sua volta, dificultando o surgimento de novas janelas de aprendizagem. Conclui, finalmente, que nós devemos ter uma mirada de cientistas que estão constantemente se desafiando para explorar novas descobertas, num jogo de possibilidades infinitas.

Na minha opinião essa mirada serve para entender melhor a origem de tamanha polarização de opiniões.

Aqui faço o gancho com a negociação, pois essa abertura à opinião do outro pode ser um bom ponto de partida para explorar novas possiblidades que até então eram invisíveis e chegar a melhores resultados. Ao invés de encarar a posição da outra parte como uma barreira, o negociador pode vestir o jaleco de cientista e explorar possíveis cenários a partir da proposta recebida. O que essa proposta revela em termos de fatos fundados na realidade?

O que é expectativa ou mero desejo? O que ele/ela está enxergando que eu não estou sendo capaz de ver?

Enfim, estar aberto ao novo e, mais ainda, a opinião contraposta a sua pode abrir uma janela de oportunidade que o obscurantismo radical impende de enxergar, seja nas redes sociais, seja numa mesa de negociação.

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