Rappport é uma palavra inglesa que, traduzida para o português, tem vários significados. Eu particularmente gosto de um: conexão. No processo de mediação – negociação assistida por um terceiro que busca resolver o conflito com o emprego de diferentes técnicas-, a conexão entre o mediador e as partes é peça fundamental para se chegar a um bom termo. E notem que o bom resultado da mediação não é necessariamente a assinatura de um acordo, mas sim o empoderamento das partes para tomar uma decisão consciente, bem informada, quanto às vantagens e riscos de encerrar o conflito ou seguir litigando. Calma! Para aqueles que são mais céticos ou mesmo refratários a respeito da mediação, o presente texto não tem como viés a purificação do processo de resolução de disputas ou mitificar essa técnica não adversarial, calcada na melhora da comunicação entre as partes e na busca de consenso onde existe espaço para tal. Em síntese, meu objetivo é de reforçar os pontos de intersecção entre essa modalidade de resolução de conflitos e a “vida como ela é”.
Ora, em que pese muitos de nós enxerguem o conflito como algo negativo (assim eu encarei durante muitos anos), tenho para mim que se trata apenas de um fenômeno inerente à raça humana na luta pela sobrevivência desde os primórdios da civilização ou na sua atual busca por aprimoramento. É muitas vezes a mola propulsora de grandes mudanças de vida. A tensão das diferenças de pensamentos e atitudes no ambiente de trabalho ou numa parceria empresarial pode, e muitas vezes é o que acontece, gerar grandes ideias e projetos de sucesso ou um retumbante fracasso. As lideranças dentro das empresas ou em alianças estratégicas são, em última análise, mediadores que buscam a melhor solução através de discussões e quebras de paradigmas para alcançar determinado resultado que preferencialmente faça sentido para todos (tal qual na mediação). Nem é necessário dizer que a comunicação é ferramenta essencial para gerar luz e sentido para as controvérsias e desentendimentos que surgem dentro das empresas e times. Se todos pensassem e agissem igual dentro do ambiente empresarial ou mesmo dentro das famílias, teríamos igual efeito ao gerado por remadores remando em apenas um lado do barco. O barco andaria em círculos infinitos sem sair do lugar. Portanto, bem-vindo o conflito e suas luzes.
Os mediadores, assim como líderes empresarias, pais, mães, professores, etc, podem servir como faróis que iluminam o futuro que seus mediados muitas vezes não são capazes de enxergar sozinhos. Na esfera dos conflitos, judicializados ou não, o mediador buscará exercer esse papel, estabelecendo com as partes o necessário rapport. Entretanto, diferente do líder de projeto, ou time, ou do chefe de família, o mediador não recebe essa conexão por força hierárquica ou afetiva. É um canal que deve ser aberto para que a mediação resulte em algo positivo para as partes, com ou sem acordo. Este é o grande desafio que os mediadores devem encarar com naturalidade, assim como o fazem as lideranças de sucesso no ambiente de trabalho ou mesmo familiar.